Linha Sensível
O Rio São Francisco faz parte da história de crescimento da cidade de Bogotá na Colômbia e sua canalização na década de 20 foi o reflexo de uma padronização de comportamento da população da cidade.
Pensando nessas questões de aprisionamento, padrão, modelo de comportamento, as artistas Eleonora Gomes e Giane Fischer foram procurar a nascente do referido rio ao pé da montanha Mont Serrat e lá consegue-se ver ainda o rio correr livremente, suas margens sendo desenhadas pelas águas fluídas, linhas sensíveis margeadas que não mostram nem por um momento similaridades como acontece no rio canalizado e preso que segue quando adentra a cidade de Bogotá.
São duas concepções diferentes de um mesmo rio. Durante vários dias ficaram subindo e descendo o rio, percebendo a estreita relação da população com este lugar, uma comunhão afetiva. Nestas águas cristalinas pode-se ver o reflexo de tudo que se aproxima, do seu entorno, é uma beleza ilusória, efêmera que logo a seguir some novamente por canais subterrâneos, vazios, infinitos…
Neste envolvimento com o referido espaço as artistas seguem para Anolaima e lá conhecem um rio livre seguindo naturalmente seu curso, descendo as montanhas através das pedras e outros obstáculos, por isso recolhem duas pedras neste lugar e as levam para Bogotá a fim de libertar, desencaminhar o Rio São Francisco através do desenho realizados com as pedras que servem como ferramenta da ”libertação” já que as pedras também vieram de um lugar livre, e assim, Eleonora Gomes de um lado da margem e Giane Fischer do outro lado desceram o curso do rio canalizado, desenhando-o em uma “linha sensível”, cada qual com a sua liberdade e as margens fluíram efêmeras, desencaminhadas, desiguais, verdadeiras.
Surgiram por cima das ruas, onde o rio está embaixo, subiram por árvores encontradas, fluíram em curso livre, pararam em redemoinhos, carregaram pessoas que também quiseram desenhar, foram acompanhadas até as margens, encontrarem-se e sumirem juntas pelas profundidades escuras que correm em algum lugar por debaixo de Bogotá.
A libertação do rio através do desenho com pedra, mesmo que metafórica foi de um esforço excessivo, exaustivo e intenso e por momentos, no auge do esforço físico parecia ser mais fácil deixá-lo preso, parecia ser mais fácil ser um rio preso, moldado, pré-concebido, apenas seguir um curso destinado e nesta libertação, através da “linha sensível. Agradecimento a pesquisadora Maria Ortiz Atuesta que gentilmente conversou com as artistas sobre sua tese de mestrado que fala justamente dessa canalização do rio e padronização da população colombiana nos anos 20.